Florzinha,
ontem doeu demais chegar em casa e não te encontrar. Senti um nó
imenso na garganta, chorei e abracei a Bella, desejando que você
estivesse ali, no portão, me esperando. Meu mantra tem sido: “um
dia de cada vez”. Foi bom ter deixado o trabalho e voltar para
casa, poder abraçar minha mãe, relembrar suas manias, seus
carinhos, nossos últimos dias juntas…
Seu
lugarzinho continua lá, Florzinha… a Bella tem te procurado e
sentido sua falta também. Ontem, quando chegamos em casa, ela te
procurou para te dizer que já estávamos lá. Acho que ela queria
puxar sua orelha, te morder e me disputar com você. A
Bellinha agora tem recebido todos os carinhos que seriam para você,
como uma forma de compensar a sua ausência.
Ai,
Florzinha… como eu tinha medo de quando esse dia chegasse. E
chegou, dilacerando nossos corações com uma dor imensurável. Eu
penso em você o tempo todo. Tento me harmonizar com os meus
pensamentos, me distraio, mudo o foco, o assunto, mas a todo momento
você me vem à mente. Fico aqui me lembrando das suas peripécias.
Suas corridas atrás do Bejamim, você fuçando o lixo em busca de
gordices, as latidas perto do saco de ração sempre que estivéssemos
na cozinha comendo alguma coisa, sua manina de se cobrir sozinha ou
sair andando, carregando o cobertor na cabeça, só com a carinha de
fora.
Tô
tão feliz por ter conseguido te dar banho no último final de
semana. Não precisei te carregar. Você veio sozinha e receosa, me
olhando de rabo de olho e orelha baixa, como se quisesse sem querer.
E depois, quando te mostrei sua roupinha, você correu para mim,
balançando o rabo e tentando me ajudar a enfiar suas patinhas em
cada buraquinho da roupa.
Nesse
sábado, Flor, eu não consegui voltar para casa na sexta, mas me
levantei bem cedinho no sábado, juntei minhas coisas e corri para
você. No ônibus eu já imaginava você me recebendo em casa, queria
te dar um banho de novo, cuidar de você, dormirmos juntinhas depois
do almoço e passarmos o resto do sábado e o domingo juntas, como de
praxe. Mas nada disso aconteceu… Não consegui te dar banho, nem te
colocar para dormir comigo, muito menos desfrutar da sua companhia.
Passei
o final de semana inteirinho pensando em você, em como você
estaria, se sentia dor, se voltaria para casa. Fiquei insegura, sem
saber o que esperar. Queria eu, Flor, poder receber uma ligação do
veterinário me chamando para te buscar, dizendo que você já estava
bem, me esperando te buscar. Perdi o apetite, não consegui comer,
minha cabeça doía muito e meu estômago também. O tempo todo eu te
mandava boas energias, o tempo todo eu te enviava amor, o tempo todo
eu falava de você. Eu já me preparava para te buscar, já tinha
limpado seu cantinho, deixado sua caminha de molho para quando você
voltasse, mas o veterinário nos informou que você ficaria mais um
tempo internada, que era grave e que poderia ser irreversível.
Nossa, Flor… nessa hora eu chorei demais. Chorei muito, alto, como
se eu previsse o que estava por vir. Fui para o quarto e me afoguei
no travesseiro.
Ainda
hoje eu ainda choro baixinho, escondida no banheiro. No trabalho, já
me perguntaram porque ando triste nos últimos dias. E não consigo
responder sem antes chorar. Não tenho mais apetite, sabe?! A comida
parece tão ruim, sem gosto, sem graça. A minha graça era você.
Todo
mundo tem me dito que vai passar, que devo viver um dia de cada vez,
que toda essa dor vai dar lugar a saudade, mas essa saudade eu já
sinto, junto com a dor. Ai, ai… é tão difícil sorrir sem você
por aqui. Abro as suas fotos no celular relembrando cada momento que
te fotografei. Pareço boba, né?! Eu sei… mas não me importo.
Boba eu seria se não tivesse tido você.
Ouço,
às vezes, as pessoas dizerem que não querem animais exatamente
porque eles se vão, mas o que essas pessoas não sabem é que
apesar de toda a dor, nada sobrepõe o amor. Nenhuma tristeza
consegue ser maior do que a alegria e a felicidade de ter tido você.
A
vida por aqui continua, minha “baligudinha”, sem graça, sem
apetite, mas continua. Acho que agora sou alguém melhor. Você me ensinou a ser intensa, a me entregar por inteiro nas minhas relações, a me doar mais e mais, você nos trouxe cura. Você é cura! A cura dessa vida para a imensidão. Hoje eu permaneço triste, mas sou melhor por você. E tudo o que você me ensinou e me trouxe vale mais que uma vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário