terça-feira, 12 de junho de 2018

Um dia de cada vez


Florzinha, ontem doeu demais chegar em casa e não te encontrar. Senti um nó imenso na garganta, chorei e abracei a Bella, desejando que você estivesse ali, no portão, me esperando. Meu mantra tem sido: “um dia de cada vez”. Foi bom ter deixado o trabalho e voltar para casa, poder abraçar minha mãe, relembrar suas manias, seus carinhos, nossos últimos dias juntas…

Seu lugarzinho continua lá, Florzinha… a Bella tem te procurado e sentido sua falta também. Ontem, quando chegamos em casa, ela te procurou para te dizer que já estávamos lá. Acho que ela queria puxar sua orelha, te morder e me disputar com você. A Bellinha agora tem recebido todos os carinhos que seriam para você, como uma forma de compensar a sua ausência.

Ai, Florzinha… como eu tinha medo de quando esse dia chegasse. E chegou, dilacerando nossos corações com uma dor imensurável. Eu penso em você o tempo todo. Tento me harmonizar com os meus pensamentos, me distraio, mudo o foco, o assunto, mas a todo momento você me vem à mente. Fico aqui me lembrando das suas peripécias. Suas corridas atrás do Bejamim, você fuçando o lixo em busca de gordices, as latidas perto do saco de ração sempre que estivéssemos na cozinha comendo alguma coisa, sua manina de se cobrir sozinha ou sair andando, carregando o cobertor na cabeça, só com a carinha de fora.

Tô tão feliz por ter conseguido te dar banho no último final de semana. Não precisei te carregar. Você veio sozinha e receosa, me olhando de rabo de olho e orelha baixa, como se quisesse sem querer. E depois, quando te mostrei sua roupinha, você correu para mim, balançando o rabo e tentando me ajudar a enfiar suas patinhas em cada buraquinho da roupa.

Nesse sábado, Flor, eu não consegui voltar para casa na sexta, mas me levantei bem cedinho no sábado, juntei minhas coisas e corri para você. No ônibus eu já imaginava você me recebendo em casa, queria te dar um banho de novo, cuidar de você, dormirmos juntinhas depois do almoço e passarmos o resto do sábado e o domingo juntas, como de praxe. Mas nada disso aconteceu… Não consegui te dar banho, nem te colocar para dormir comigo, muito menos desfrutar da sua companhia.

Passei o final de semana inteirinho pensando em você, em como você estaria, se sentia dor, se voltaria para casa. Fiquei insegura, sem saber o que esperar. Queria eu, Flor, poder receber uma ligação do veterinário me chamando para te buscar, dizendo que você já estava bem, me esperando te buscar. Perdi o apetite, não consegui comer, minha cabeça doía muito e meu estômago também. O tempo todo eu te mandava boas energias, o tempo todo eu te enviava amor, o tempo todo eu falava de você. Eu já me preparava para te buscar, já tinha limpado seu cantinho, deixado sua caminha de molho para quando você voltasse, mas o veterinário nos informou que você ficaria mais um tempo internada, que era grave e que poderia ser irreversível. Nossa, Flor… nessa hora eu chorei demais. Chorei muito, alto, como se eu previsse o que estava por vir. Fui para o quarto e me afoguei no travesseiro.

Ainda hoje eu ainda choro baixinho, escondida no banheiro. No trabalho, já me perguntaram porque ando triste nos últimos dias. E não consigo responder sem antes chorar. Não tenho mais apetite, sabe?! A comida parece tão ruim, sem gosto, sem graça. A minha graça era você.

Todo mundo tem me dito que vai passar, que devo viver um dia de cada vez, que toda essa dor vai dar lugar a saudade, mas essa saudade eu já sinto, junto com a dor. Ai, ai… é tão difícil sorrir sem você por aqui. Abro as suas fotos no celular relembrando cada momento que te fotografei. Pareço boba, né?! Eu sei… mas não me importo. Boba eu seria se não tivesse tido você.

Ouço, às vezes, as pessoas dizerem que não querem animais exatamente porque eles se vão, mas o que essas pessoas não sabem é que apesar de toda a dor, nada sobrepõe o amor. Nenhuma tristeza consegue ser maior do que a alegria e a felicidade de ter tido você.

A vida por aqui continua, minha “baligudinha”, sem graça, sem apetite, mas continua. Acho que agora sou alguém melhor. Você me ensinou a ser intensa, a me entregar por inteiro nas minhas relações, a me doar mais e mais, você nos trouxe cura. Você é cura! A cura dessa vida para a imensidão. Hoje eu permaneço triste, mas sou melhor por você. E tudo o que você me ensinou e me trouxe vale mais que uma vida.


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