sexta-feira, 3 de março de 2023

Eu conto os dias, conto as horas para te ver...

Ontem, antes que eu desligasse o telefone, ele pediu para falar comigo. Eu disse: “Oi, pai! Tudo bem?”. Ele respondeu, meio gritando: “Tá boa? Queria te falar... advinha a música que eu tenho cantado todos os dias...” E eu, surpresa, respondi: “Uai... não sei...” E ele, novamente, me responde, cantando: “Eu conto o dia, conto as horas pra te ver. Eu não consigo te esquecer...”. Rimos muito. Achei tão lindo. Foi como receber um presente antes de dormir. Fez muito sentido aquele carinho à distância. E respondi. E advinha qual vai ser a música que o senhor vai cantar depois que eu chegar. E ele: “Qual?” E foi minha vez de responder cantando... “Hoje sou feliz e canto... só por causa de vocêêê!” E ele me respondeu: “Essa é boa. Faz sentido mesmo”. E assim encerramos aquele telefonema cheios de amor e de saudade.

E isso foi suficiente. Me bastou que meu pai me lembrasse que sou esperada por ele, assim como minha mãe me diz exatamente, desde que me despedi, quantos dias faltam para eu voltar. É só disso que a gente precisa às vezes, de um carinhozinho na alma, já cansada. Hoje de manhã, encontrei a Mari para um café. Comentei que já tenho a data da volta, que foi pesado tomar essa decisão, já que deixo aqui muito do que foi construído esse tempo todo. Mas que é chegado o momento de voltar e para isso preciso ser racional. Descrevi para ela o episódio do meu pai na tentativa de mostrá-la que há espera do lado de lá. Ela ficou surpresa com o que eu contava. E quando repeti a música que ouvi do meu pai, vi que seus olhos se encheram de lágrima. Entendi que foi forte para ela assim como foi para mim.

Tenho certeza que meu pai não percebeu, foi simbólico, mas super significativa essa brincadeira despretensiosa, mas ao mesmo tempo, cheia de amor. Talvez, para quem está longe de casa ressoe com mais força. Não há muito o que dizer. É isso. É simples. Que a gente cuide da gente e dos outros que estão ao nosso redor, aqui, aí, não importa onde. O que importa é a força do amor que existe em nós, que nos entrelaça e que nos fez virmos como família nessa vida. Que a gente compreenda a força de um pequeno gesto, seja uma música, um abraço, uma flor, um sorriso. Não sei vocês, mas para mim, a vida faz mais sentido quando nossas almas são tocadas ou quando sem que percebamos, conseguimos, de uma maneira singela, tocar outras almas também. Obrigada, pai, nesse momento, por essa música, que, a partir de agora, passa a fazer parte da minha trilha sonora. Muito obrigada por ter tocado de uma forma tão bonita e especial a minha alma, que mesmo cansada, depois do seu gesto se renovou e reavivou. Acho que era isso que ela buscava e encontrou em você, vida.