sábado, 20 de dezembro de 2014

Valeu a pena

Acredito em destino, não sei vocês, mas penso que nosso encontro já estava predestinado. Não nos conhecemos desde o início, talvez eu tenha entrado como uma intrusa, mas fui tão bem recebida a ponto de não mais querer sair. E de fato fiquei. Talvez porque eu desejava, fiquei.

Penso que a vida é feita de desafios e estar com vocês a cada dia era desafiador. Tentar extrair de vocês o que havia de melhor era desafiador e assumo: adoro desafios!

E uma relação foi sendo criada aos poucos, dia a dia, aula a aula. Por mais que vocês possam ter pensado, eu nunca desisti de vocês, ao contrário, eu me preocupava, e muito, com vocês. Eu sentia que a minha presença ali não era em vão. De alguma forma, eu queria que vocês se sentissem amados, queridos, valorizados.

Eu percebi que não seria fácil desde a minha primeira tentativa de mapa de sala. Alguns não se davam bem com outros, havia ali uma zona de conflitos, eu precisaria, transitar, amigavelmente, por todas essas faixas de Gaza.

Confesso que às vezes não sabia o que fazer, e eu me perguntava: será que o problema é comigo? E era talvez, nessas horas, que vocês me surpreendiam, ao fazerem um silêncio sepulcral na hora da explicação, ao participarem da aula, me enchendo de perguntas, ao concluírem os exercícios. E eu saía dali com uma sensação de dever cumprido, de que valia a pena, de que cada um de vocês merecia atenção.

Quando percebia que algum de vocês não estava bem, meu coração doía e eu ficava pensando o que fazer para me aproximar, para tentar ajudar, para melhorar o rostinho triste. E tenham certeza, eu fazia tudo o que podia. Havia momentos em que eu queria puxar a orelha de um por um, alguns com mais frequência. Ai... aquele tal de “away”, ou sei lá como é que se diz...

E tudo ia relativamente bem, até que apareceu, por influências externas, um tal de “Tia Lili” para cá e “Tia Lili” para lá... Entreguei para Deus e deixei “rolar”. Minhas forças já estavam escassas para combater esse mal que se alastrava por toda a escola.

Mas houve coisas boas também: fizeram gols para mim (me senti uma adolescente, nunca tinham feito um gol para mim antes), recebi elogios, ganhei cartas, ouvi dizerem que eu era a melhor professora que já tiveram, e o que é melhor: vi vocês amadurecerem.


E hoje digo: valeu muito a pena estar com vocês durante todo esse ano.  Desejo profundamente que a gente se encontre, que me tragam boas notícias, que me visitem, que tenham sucesso e que independente de poder ter sido a melhor professora, que pelo menos eu tenha sido uma professora querida, que deu o melhor de si por pessoas que mereciam. Graças a vocês, hoje me sinto alguém melhor. Por isso, quero agradecer a oportunidade da convivência e admitir que estar com vocês durante todo esse tempo VALEU A PENA! Que esse texto leve a vocês todo o meu carinho e todo o meu amor. Meu nono B, eu amo vocês!


Nono A, A de Amor

Com vocês aprendi o que é amor de verdade: amor de mãe, quando tinha a vontade de puxar a orelha de cada um; amor de irmão, quando ouvia confidências; amor de amigo, quando dava conselhos; amor de professora, quando torcia para que cada um se saísse bem, não só nas provas, mas nos projetos mais pessoais, que algumas vezes, tive a honra de que fosse compartilhado comigo.

Aprendi a ter um orgulho inenarrável, de cada um de vocês. Quando a bandinha de rock começou a engrenar (mesmo nos bastidores, eu fazia uma figa do tamanho do mundo para que tudo desse certo), quando havia alguma apresentação de ballet (e eu me enchia de orgulho em dizer que tinha uma aluna bailarina, com apresentação no Palácio das Artes e tudo mais),quando um aluno (fã do Cristiano Ronaldo) era almejado pelo Bayern de Munique, quando tiravam total nas provas de Língua Portuguesa, quando se saíam bem nas provas de Matemática, quando ouvia algum elogio sobre vocês na sala dos professores e podia pensar “são meus alunos”.

Nunca imaginei que uma crônica minha fosse tão ansiosamente esperada. “A professora não gosta da gente. Ela nunca escreveu uma crônica pra gente.” E era uma luta para eu tentar explicar que a crônica de vocês viria, mas na hora certa. E que responsabilidade a minha em provar agora, em poucas palavras, o quanto vocês foram e são importantes para mim.

Ah... se vocês soubessem o quanto eu esperava a quarta-feira para passar mais tempo com vocês... Afinal, com vocês, sempre me senti amada, até porque, Nono A, de Amor. Ali eu me sentia querida, me sentia protegida, era como se me cuidassem. Era o material que se ofereciam para carregar, os rostinhos sempre felizes a me desejarem um bom dia, me dizendo que estavam com saudades, os abraços carinhosos, os pedidos intermináveis, e sempre da mesma pessoa, para ir ao banheiro e beber água: “Mas você nunca me deixa ir...”.

Foram muitas ambiguidades durante o ano, alguns pleonasmos, sentido denotativo, sentido conotativo... Quanta polissemia!!!  Houve regência verbal e é por meio dela, agora, que eu tento me expressar, demonstrando o quanto quero vocês. Querer, verbo transitivo direto, no sentido de ter afeto. E que essas palavras eternizem o tamanho do meu afeto por vocês.


Foram muitos os convites e pedidos durante o ano: para tomar um sorvete, para ir ao cinema, para ir ao show do Metamorfina, para ir à Praça da Liberdade, para passar o número do celular, para adicionar no facebook (que já nem tinha mais). Mas agora vem o meu pedido: para que vocês me levem como uma lembrança boa, gostosa e feliz. Para que vocês tenham juízo, sucesso, para que sejam felizes, porque eu confesso que feliz já me considero por ter participado, ainda que um pouquinho da vida de vocês.