Escrever me torna alguém melhor.
Com o movimento da caneta, com o contorno das letras e com o rabisco da tinta
no papel em branco, aprendi a me descobrir. E, à medida que aquelas ideias
confusas jogadas ali no papel começam a se organizar, minha vida também se
organiza.
O choro engasgado se desfaz em
lágrimas e em palavras que preenchem o vazio antes impreenchível. A dor, após dividida com o papel, se parece mais
suportável e os seres, antes julgados de forma humana, passam a ser compreendidos
e tolerados.
As ofensas recebidas bruscamente,
quando desabafadas por meio dos dedos frios no teclado do computador, são
perdoadas com menos dor e mais amor. Se antes era radical, passo a ser mais
tolerante. Se andava nos extremos, considero a hipótese de caminhar pelo meio.
Se antes afoita, agora mais cautelosa. Se antes limitada, agora completamente
livre.
Por meio das ideias organizadas
no papel, aprendi a considerar o outro, sua vida, sua história e seus porquês. Aprendi,
pouco a pouco, a desnudar-me, revelando a mim mesma quem de fato eu sou.
Traduzindo em palavras meus medos, sonhos e sentimentos, pude entender que só
eu sou digna de dizer se dói, onde dói, qual é a intensidade da dor e qual a
cura, cabendo apenas a mim diminuí-la ou extingui-la de vez. Avalio hipóteses,
ouço conselhos, mas a escolha final é minha, e apenas minha.
Escrever me trouxe a paz
almejada, o alívio para toda dor, e ao próximo, o verdadeiro amor. Com o desenho das letras, me descobri mulher,
me descobri maior. E por isso concluo, escrever me faz alguém melhor.
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