quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Quero outro desfecho para mim

E se eu escolher não fazer parte disso? E se eu preferir não postar fotos de biquíni, nem falsos sorrisos que se desfazem depois que a câmera emite o flash? Posso preferir ser desconhecida e essa sim ser minha libido: passar despercebida num mundo onde todos vivem em função de uma curtida. Quero ser do contra. Ao invés de viajar para postar fotos e mostrar ao outros que tenho uma vida interessante, quero viajar pra mim, e só pra mim, sem me preocupar com fotos, ângulos, imagem ou corpo sarado. Quero poder apreciar a paisagem tranquilamente, sentir a brisa tocar meu rosto e gravar tudo isso, não num aplicativo que armazena a imagem por 24 horas, mas na memória que é capaz de retomar as sensações sempre que eu quiser.
Quero ser diferente, sabe? Porque esse comum já excedeu. Num mundo de batons, iphones, biquínis e saltos, quero me permitir a calça jeans, o tênis sujo e o cabelo desarrumado. Quero não precisar participar de discussões on line de temas polêmicos (tampouco ouvi-las ou lê-las). Quero ser eu mesma, do jeito que eu sempre fui, do jeito que eu quero ser, e não do jeito que os outros acham ou pensam que eu deveria ser. Quero usar o meu cabelo natural, como ele é, e não ter que usá-lo liso, escrava da chapinha ou entupi-lo de química, progressivas e falsas hidratações. Essa sou eu, entende?
Quero não precisar ser bonita o tempo todo, ser sensual para os outros ou parecer inteligente ou intelectual para quem nem me conhece. Quer ser “humana”, poder errar, poder chorar quando sentir vontade, me entristecer, ler autoajuda (por que não?), mudar de opinião, se for necessário, e não ter que agradar aos outros.
Quero poder me deitar à noite e saber que meu dia foi feliz porque o vivi pra mim, não para os outros. Porque fiz o bem, não porque tenho muitos seguidores no instagram. Quero antes de dormir, agradecer a Deus pela oportunidade de evolução e crescimento, e não por ter conseguido boas fotos de um momento que deveria ser só meu, mas que insisto em compartilhar com os outros para ter o que contar. Quero, simplesmente, não ter o que contar, e ainda assim me sentir feliz. Quero o simples e o essencial, para mim, e não porque ser minimalista é moda. Quero ser vegetariana porque meu organismo e a minha consciência têm me pedido e não porque parece chique.
Quero viver como vivia antes dessa explosão de ego. Em que eu podia ter uma conversa sincera e feliz com um amigo sem precisar registrar o momento, em que eu podia assistir ao por do sol despretensiosamente, em apanhar jabuticaba no pé sem precisar postar que tenho um pé de jabuticaba no quintal de casa (o que parece raro nos dias de hoje, felicidade a minha). Saudade da época em que eu comia couve com angu feita pela avó e esse momento era nosso, só nosso. Saudade da época em que nos reuníamos para tirar foto e esperávamos ansiosos pela revelação de um momento nosso.
Saudade da época em que cada um vivia para si, não para os outros. Saudade da época em que as pessoas eram felizes com tão pouco e os sorrisos sinceros. Saudade da época da vida real, de pessoas reais e não desse desfile de vidas ricas, interessantes, cheias de fotos nas redes sociais, mas tão vazias de si, de sentido e de verdade.