segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

1 ano aqui

Hoje faço um ano aqui na França e a saudade vem cada vez mais forte, devastadora, pungente, dilacerando meu coração. Eu finjo que tá tudo bem, mas lá no fundinho, bem no fundinho, eu sei que não. Não está. Tenho descoberto cada vez com mais certeza e segurança de que o meu lugar é lá.

Como me faz falta abraçar minha mãe e passarmos horas conversando, rindo, refletindo sobre a vida, filosofando, lembrando de coisas do passado. Sinto falta de rir das piadas do meu pai e mandá-lo cortar o cabelo, com a resposta dele sempre previsível, dizendo que quem corta o cabelo é o barbeiro. Nas noites de sábado invento sempre o que fazer por aqui, mas não tenho Plínio, Lívia e Alice chegando em casa no final da tarde para tomar um café, falar besteira, ver vídeos bobos no Instagram e depois levá-los até o portão.

E tia Lelena me chamando na janela do meu quarto para me contar que se lembrou de mim ou me dar conselhos ou dizer que fritou “uma mãozinha de batata” para mim. Letícia que aparecia de surpresa no meu quarto me pedindo para ajudá-la no dever, quando na verdade, o que eu sabia que ela queria mesmo era companhia, carinho, conversa e atenção.

Às vezes tenho a sensação de que mais seis meses aqui será uma eternidade. Enquanto tô aqui, distante, o tempo passa. E a vida tem me ensinado a todo custo que nossa maior riqueza é perto dos nossos. Eu sei, precisei aprender vivendo o contrário de tudo isso. Aprendi também, que posso construir valiosas amizades aqui, apesar disso parecer quase impossível, mas no final das contas, quem vai seguir comigo até o fim está lá, me esperando voltar.

Não sei como será passar as festas de final de ano aqui. Vou me esforçar para ficar bem, para não chorar, para não doer. Pode parecer, e de fato ser, tudo lindo aqui, mas prefiro o meu simples e singelo de lá. A cada dia e a cada experiência, por mais linda e significativa que ela possa ser, aprendo que meu maior tesouro está lá, contando dia a dia para que eu volte e são para esses braços que não vejo a hora de voltar.