Permita-me nos próximos dias não querer ninguém. Nem aquele
ator de cinema que te arranca suspiros nem o amigo mais cobiçado do irmão com
quem você sempre sonhou. Permita-me querer ficar só sem precisar dar longas e
intermináveis explicações.
Se possível, evite também me indicar pretendentes, insistir
em apresentar amigos e forçar um encontrozinho casual. Agradeceria também se
não refizessem a pergunta “por que está só?”. Porque para aqueles que precisam do
outro para se autoafirmar como alguém de valor, nada do que eu disser vai fazer
sentido. Porque para aqueles que não conseguem ser a melhor companhia para si
próprio, não estar acompanhada significa estar só.
Por favor, me sinto cansada de ouvir falar da minha foto, do
sorriso, do corte de cabelo, da cor da pele, do corpo – para alguns, muito
magra (homens gostam de ter onde pegar) – para mim, acima do peso. Melhor não
entrarmos em discussão. Prefiro sair do
script, não ser a bola da vez, nada de papéis principais, nunca gostei de ser a
protagonista.
Se sorrio, escondo alguma coisa. Se choro, as coisas não vão
bem. Se sumo, algo está acontecendo. Se apareço, tenho algo para dizer. Se adoeço,
é culpa da vida boêmia. Se não atendo o telefone, é porque estava aprontando
alguma. Se invisto no boxe, estou agressiva. Se me entrego ao Yoga, sou zem ao
extremo. E simplesmente viver, posso?
Posso ficar sozinha e ainda assim não me sentir vazio como
você? Ou isso também incomoda? Posso por um tempo não querer sair, beber, virar
as noites como antes? Ou sou obrigada a aceitar convites que não me satisfazem
para agradar a quem não me interessa só para fingir popular?
Permita-me trocar os elogios por conversas sinceras. As
cervejas por livros. As paqueras por amigos de verdade. As conversas virtuais
por encontros reais. Todo o talvez por um não. O sábado badalado por um domingo
de paz.
Permita-me recusar toda essa felicidade comprada, fria e
fugaz pelo meu equilíbrio morno, sincero e duradouro.
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