Ela, inocente, acreditava que ouvindo aquela música, que o
trouxera enviado pelos acordes sonoros e mentais, o teria de volta. E porque
acreditava também em destino e na força do pensamento, por todos os dias
ativava a mesma trilha sonora e imaginária de um dia de desejos e ilusões.
E assim viveu por muito tempo, reavivando dia a dia
lembranças já distantes e perdidas no tempo, recolhendo cacos de sentimentos e
recordações gastas pela vontade definhada ao longo do caminho. Mas ela
acreditava, e isso, apenas isso, era o suficiente para prosseguir.
Aquela canção tocou por muitos e muitos dias, o replay das
mesmas cenas se repetiram incansavelmente, a vontade de reencontrá-lo era
renovado a cada manhã, em seu primeiro pensamento do dia, e a crença de que ele
voltaria alimentava sua esperança de sonhos fortemente realizados.
E a sua força do pensamento tão grande foi que de fato ele
reapareceu, mas de uma forma adversa. Ao contrário do que esperava, ela é que
foi levada a ele. Linda ela estava. Um vestido alvo e levemente transparente
escondia toda a sua inocência, já a sua felicidade se via estampada num sorriso
largo de satisfação e realização. Ela sabia, aliás, tinha certeza de que haviam
sido feitos um para o outro, embora ele tivesse sido arrancado injustamente das
suas mãos. E de um sonho diário, ela começou a viver o que chamou, naquele
momento, de sonho eterno. E embalados pela canção incansavelmente repetida, eles
seguiram de mãos dadas rumo a eternidade, de onde jamais poderiam ser
retirados.
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