quarta-feira, 3 de abril de 2013

A canção da eternidade


Ela, inocente, acreditava que ouvindo aquela música, que o trouxera enviado pelos acordes sonoros e mentais, o teria de volta. E porque acreditava também em destino e na força do pensamento, por todos os dias ativava a mesma trilha sonora e imaginária de um dia de desejos e ilusões.

E assim viveu por muito tempo, reavivando dia a dia lembranças já distantes e perdidas no tempo, recolhendo cacos de sentimentos e recordações gastas pela vontade definhada ao longo do caminho. Mas ela acreditava, e isso, apenas isso, era o suficiente para prosseguir.

Aquela canção tocou por muitos e muitos dias, o replay das mesmas cenas se repetiram incansavelmente, a vontade de reencontrá-lo era renovado a cada manhã, em seu primeiro pensamento do dia, e a crença de que ele voltaria alimentava sua esperança de sonhos fortemente realizados.

E a sua força do pensamento tão grande foi que de fato ele reapareceu, mas de uma forma adversa. Ao contrário do que esperava, ela é que foi levada a ele. Linda ela estava. Um vestido alvo e levemente transparente escondia toda a sua inocência, já a sua felicidade se via estampada num sorriso largo de satisfação e realização. Ela sabia, aliás, tinha certeza de que haviam sido feitos um para o outro, embora ele tivesse sido arrancado injustamente das suas mãos. E de um sonho diário, ela começou a viver o que chamou, naquele momento, de sonho eterno. E embalados pela canção incansavelmente repetida, eles seguiram de mãos dadas rumo a eternidade, de onde jamais poderiam ser retirados.



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