quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

1 mês depois...

Hoje, dia 12 de janeiro de 2022, faz um mês que os vi pela última vez, pessoalmente. Hoje, dia 12 de janeiro faz um mês que parti para essa aventura misturada com loucura, porque hoje vejo quão louca fui por ter aceitado esse desafio de vir passar um ano num país distante, sem sequer saber falar a língua com segurança.  Por outro lado, talvez eu me achasse louca também se não tivesse aceitado viver tudo isso.

Os dias passam, com ou sem dificuldades, com sorrisos e risadas por trás da máscara ou com algumas lágrimas escondidas, porque sim, aqui não tenho privacidade nem mesmo para chorar como costumava fazer. Sempre que sinto vontade de chorar, preciso me conter. Agora mesmo preciso escrever esse texto como se escrevesse minha tese, fria e racional, já que do meu lado, a dois metros de distância tem alguém que fala ao telefone como se não houvesse ninguém mais por perto.

Sinto falta de privacidade, de ficar sozinha, de poder escolher o que fazer, de tomar café coado com filtro de pano, sinto falta de terreiro, de varrer terreiro, de falar com voz de bebê com Bella e Polly e de dançar com elas na cozinha pequena de casa. Sinto falta de dar daqueles abraços apertados em Alice e dizê-la bem alto e com expressividade: “Que saudade, meu amor!”. Sinto falta de tomar o segundo café da manhã com minha mãe, jogando conversa fora, de ouvir meu pai dedilhar suas músicas intermináveis no violão, de dormir assistindo Fantástico ao domingo à noite com minha tia e Bella, de ver a lua porque a lua aqui, por incrível que pareça, não é tão bonita e radiante como no Brasil. Vi-a poucas vezes, acho que duas apenas. Sinto muita falta da vista da janela do meu quarto e de tantas incontáveis coisas...

Por enquanto a sensação que tenho é de que minha visão é turva aqui, nublada, limitada, embaçada. Não sei explicar. Já aí vejo tudo claro, radiante, extenso, como se meu espaço fosse muito maior que aqui, sem limitações, amplo, com um Belo Horizonte. Talvez com o tempo essa paisagem mude, mas até que isso aconteça, sinto falta das minhas janelas daí. A propósito, aqui não tem meu beija-flor, apenas um passarinho negro, pequeno, que emite um barulho estranho, parece um corvo. Meu urubu europeu.

Por outro lado, há compensações. Já vi a neve algumas vezes, já conheci pessoas de diferentes países, vejo todos os dias os alpes franceses, às vezes com neve, às vezes com sol. Essa é a minha Serra da Piedade aqui. Costumo correr ao redor do Estádio dos Alpes que é bem em frente à minha casa. Enquanto corro, olho para os alpes e vejo aquelas imagens de pote de manteiga ou de chocolate Milka. Tem horas que não acredito e agradeço muito a Deus por estar vivendo tudo isso. Além disso, já comi muita comida saborosa, já bebi vinhos requintados a preços acessíveis, já dei muita bobeira e logo depois ri muito de mim.

A vida tem seguido por aqui. Um dia melhor, outro nem tanto. Sinto como se amadurecesse 10 anos em um dia. O que preciso fazer aqui não há quem faça por mim, aliás, sou eu quem ando fazendo por outros também, já que encontramos tanta gente que também precisa de ajuda e, claro, tenho sido infinitamente ajudada por tantos corações solidários como prêmio e retribuição, o que me faz mudar minha forma de ver e atuar no mundo.

Apesar de todos os desafios, sigo com a sensação de benção divina tudo o que vivo hoje. Mas, confesso, é preciso coragem, sacrifícios, aprender a viver um dia de cada vez e entender que todo o bem que fazemos volta como um trem-bala na nossa direção. Daí, trago cada um de vocês dentro do meu coração e da minha memória, nos detalhes, em pequenas situações, em casos, infinitos por sinal. Eu estou feliz por estar aqui, mas, ao mesmo tempo, anseio por voltar. Talvez com o tempo essa intensidade seja menor, mas certamente não passará. Sigo daqui com o coração vibrando de saudade e com muito mais amor no coração para dar a vocês quando voltar. Uma palavra? Gratidão e resilência!!!







Nenhum comentário:

Postar um comentário