Hoje,
olhando para trás, vejo tudo de uma forma muito clara. Sei como é
difícil, para você, amar, se entregar, se ver suscetível, baixar a
guarda e deixar que a vida te leve. Minha posição, hoje, é de
empatia, e, por isso, me coloco no seu lugar, com todo o meu carinho
e respeito.
Imagino
que deva de fato ser difícil para você amar, se entregar, sofrer às
vezes e chorar. Não é que para mim não seja. A diferença é que
costumo me entregar de cabeça aos desafios da vida, venham como
vier. Mais do que sofrer, me dói não ter vivido, não ter
experimentado, me encher de “se” e criar uma fantasia pela
ausência de realidade.
O
que eu quero que saiba é que eu te entendo, compreendo seu medo, sua
fuga, suas mentiras, sua evasão, seus escapismos. Eu também já
vivi momentos assim. Eu também já senti o que você sente hoje, e,
por isso, não me permito mais dizer “não” para os convites que
a vida me faz. Porque depois que passa, a angústia é muito maior. A
angústia por tudo que não foi vivido, pelo que poderia ter sido se
eu tivesse me entregado, arriscado, pagado para ver. Esse “se”,
no final das contas, mata muito mais do que qualquer dor ou
sofrimento de um amor vivido com todos os seus desafios. O amor,
quando vivido, trás alívio, paz e mais amor. Já a negação desse
amor traz angústia, perguntas, uma constante volta ao passado ou
projeções constantes ao futuro numa tentativa de burlar e boicotar
o presente, como um castigo ou punição por essa “não entrega”.
Mas
a vida ensina e hoje só posso afirmar tudo isso porque vivi toda
essa angústia por todos os “nãos” que dei à vida como resposta
aos convites que dela recebi. Hoje, por mais medo que me venha a
qualquer convite que eu recebo, me desafio a responder sempre “sim”
e me arrisco, mesmo com medo. Se sinto que meu coração tende a ir,
ainda que a mente me alerte do contrário, digo “sim”. Não
costumo trair meu coração e minha intuição como fazia antes.
E é
por tudo isso que entendo todo o seu medo, todo o seu não revestido
de “sim”, todas as suas crises existenciais, todas as recaídas,
as dúvidas, e, apesar de toda a confusão aí dentro de você, quero
que saiba que você tem toda a minha empatia, meu respeito, carinho e
gratidão.
Sei
que um dia você também vai entender tudo isso e todo esse medo que
existe aí dentro de você vai se dissipar e se transformar em
clareza, em entendimento, em transformação. Não posso nem quero
voltar, retroceder, te procurar porque tudo isso já não me cabe
mais, mas te envio todo o amor e gratidão que há dentro de mim,
como forma de dizer “Gratidão pelo seu primeiro ‘sim’”. Foi
esse seu sim que nos fez viver tudo o que vivemos e nos conhecermos
dessa forma tão bonita, marcante e única.
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