terça-feira, 20 de novembro de 2018

Na bagunça do armário


Hoje, em meio a livros, papéis e preocupações, uma limpeza se fez necessária, como se o externo fosse capaz de organizar o interior. Foi a forma que encontrei, naquele momento, de me resgatar, perdida em pensamentos, ideias, planos e projeções.

E num movimento de rasga papel, separa livros e organiza pastas, me deparei com um depósito de boas lembranças, o que naquele dia me fez ganhar a manhã.

Separadas e bem guardadas, encontrei uma coleção enorme de cartinhas que recebi dos meus alunos no dia dos professores no meu segundo ano de profissão. Impossível não sorrir e relembrar de um por um, dos rostinhos, das letras, do que seguiram seus caminhos, dos que permanecem…

Nas cartas, bondosos que são, diziam que gostavam de aprender Português porque era comigo, que eu era a melhor professora do mundo, que me amavam, que eu sabia ensinar de verdade, que eu despertava o gosto pelo estudo, me agradeciam por fazer parte de suas vidas.

Pudera eu reescrever um trecho de cada cartinha e me entenderiam.
O que a princípio seria a organização de um armário se tornou a reativação da lembrança de uma escolha feliz. A escolha que fiz no dia em que decidi o curso que delinearia a minha vida, os meus projetos e a minha alegria de viver.

Sou mais feliz por tê-los no meu dia a dia, confesso. Nos identificamos, nos vemos um no outro, nos queremos bem. E são nesses momentinhos de distração em que a felicidade vem nos visitar, quando nos sentimos perdidos e nos reencontramos na bagunça do armário em em meio a cartinhas e declarações de amor, como se algo sussurrasse baixinho no ouvido: “vale a pena continuar”.


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