Tenho
compreendido que relacionar-se é uma das mais difíceis artes do
viver. Compreender o outro, seus desejos, seus anseios, seus medos e
lidar com tudo isso às vezes é da ordem das coisas quase
impossíveis, já que se entender já é muito complexo, quem dirá
entender o outro.
Nessa
dança da vida, o baile não tem hora para acabar. Dança-se com um,
dança-se com outro. Pisa-se no pé, dança-se de novo com o primeiro
ou nunca se dança com aquele ali que não solta a loirinha de
cabelos longos e brilhantes. E o baile segue…
E a
cada baile, a gente aprende um passo novo, ou pelo menos assim
deveria ser. E com um novo par a gente entende que cada um tem seu
jeito particular de dançar, de rodar, de convidar para a
contradança, de se despedir, de voltar ou nunca mais voltar.
A
gente aprende também que quanto mais confortável a roupa, melhor se
dança; quanto mais prática se tem, mais segura se sente; quanto
mais se erra, menos se julga. Aprende também que com o mesmo par ou
se cansa ou se aperfeiçoa. Aprende que sempre é chegada a hora de
partir, ou do outro partir. Aprende que à meia-noite já é hora de
ir embora ou é quando melhor o baile se torna.
E
tem a hora em que o corpo, a mente e a alma pedem para não mais
voltar. Ou porque se machucou o pé ou o coração; ou porque o tempo
passou e não mais as mesmas pessoas frequentam o mesmo lugar ou
porque não reconhecemos nem as músicas, nem as pessoas, nem as
roupas, nem as gerações, e, muitas vezes, nem a nós mesmos.
E é
preciso deixar o baile com a cabeça erguida. Porque queremos nas
noites de sextas e sábados nos jogarmos no sofá, na frente da
televisão. Porque queremos dormir mais cedo. Porque a chuva não nos
deixa sair, diferentemente de como era antes. Ou porque nosso par não
se encontra mais nos bailes da vida, e sim dentro da nossa vida. E o
coração pede para ficar. Os pés pedem para ficar. E,
principalmente, porque aquele que nos convidou para contradança e
melhor nos balançou no ar também nos pede para ficar.