Essa canção, agora, me faz
lembrá-lo. Parece bobo, mas canto-a repetidas vezes, rememorando todas aquelas
que o vi cantá-la. Decoro a letra. O dedo aperta o repet, e assim, o reativo
fortemente na memória, inúmeras vezes, porque em cada palavra dessa canção vejo
seu rosto, seu olhar, seu sorriso e relembro seus comentários, ao cantá-la.
E nessas horas percebo como ainda
está em mim, em meus momentos de solidão, tão bem colocados durante a terapia,
e não me enxergo sem ele. E nos vejo assim, distantes, embora tão
próximos. Distantes fisicamente, mas
próximos em pensamento, no desejo de nos vermos, de estarmos juntos, porque não
estamos fora, mas dentro, um do outro. Nas histórias divertidas – de infância ou
recentes – na cumplicidade, na proteção, nas lembranças, no forte desejo de
estarmos bem, no colo camuflado, nos conselhos, nos pedidos...
E percebo, ainda que de forma
dolorida, que apesar da distância física, estamos próximos e unidos eternamente
pelos laços de irmandade, de carinho, de amor, portanto, aconteça o que
acontecer, venha o que vier ou quem vier, eu estou com ele e ele está comigo,
hoje e sempre.
E ainda que haja alívio por
pensar dessa forma, nada disso, ainda assim, me impede de chorar de saudade da
convivência intensa, das horas exaustivas que passávamos juntos, de podermos
zuar um ao outro pela cara amassada ou pela combinação do chinelo com meia boca
de sino e bermuda desbeiçada, de puxar a coberta quando se demorava para
levantar pela manhã, de rir, e muito, por se tomar banho uma hora antes de sair
para o cabelo secar amigavelmente ou de reclamar do perfume que infestava a
casa e que adorávamos comentar, em especial, meu pai: “um dia ainda morre
sufocado”.
Gozado, mas nunca pensei sentir
tanto a sua falta. Talvez porque um pedaço de mim também se foi, porque me
procuro e já não me encontro por inteiro, porque me vejo incompleta, sem ele
sempre por perto como antes. Mas me conforta saber que mesmo faltando um pedaço
não nos perderemos um do outro, simplesmente porque estamos não fora, mas um no
outro. E a música, ainda no repet, não o deixa partitr: “This is my kingdom
come. This is my kingdom come.”
Que texto lindo! Parabéns pela sensibilidade e talento.
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