Hoje, quase seis anos depois,
sinto como é difícil ainda me lembrar de um momento que me arranca lágrimas. Os
perdoo por toda ausência, mas concluo com lamentação: não os encontro na
memória num momento que considero tão especial e ao mesmo tempo marcante.
Naquele dia, meu irmão e eu não
nos falávamos. Havíamos discutido coisas banais ou nem tão banais a ponto de
não conseguirmos nos encarar. Já meu pai, ausente e displicente, nem sequer me
olhava nos olhos. Enquanto isso, minha mãe tentava fazer o que podia, nas suas
limitações. Mas Eles não... Os vejo hoje movendo céus e terras para que aquele
meu sonho infantil saísse sob encomenda. Visualizo todos Eles me trazendo as
economias, os préstimos, o sorriso, o desejo de que dêsse certo, o abraço...
Me lembro, em especial, e com
detalhes, do dia anterior. As malas por se terminar, a ansiedade, o medo e a
presença, na medida do possível, da minha mãe. Mas é quando Eles reaparecem,
nesse momento de malas quase prontas e pés ao meio do caminho que toda a
lembrança me dói mais. No ápice da quase solidão, num momento de desorientação,
me aparecem elas, minhas primas-irmãs, trazendo nas mãos um bolo de chocolate,
cartinhas cheias de carinho e algumas fotos tão nossas. Me vi feliz novamente,
apesar de me sentir perdida e sem saber o que fazer, sensações permanentes nos
últimos dias. Na hora de partir o bolo, lá estavam Eles de novo, dessa vez com
o refrigerante que faltava.
Meu irmão havia saído com a
companhia de sempre e meu pai, como de praxe, não se encontrava em casa. Minha
mãe, dessa vez, se achava ao telefone, conversando horas a fio com uma das
amigas tão chatas e inoportunas, que ligava nos momentos menos apropriados e na
hora em que mais solicitávamos a presença dela.

Meu pai e meu irmão, os procuro
por toda a parte na memória num momento marcante e dolorido, e não os encontro.
Aliás, quanto ao meu irmão, me lembro do seu pouco caso e da sua empáfia, já
meu pai parece ter sido apenas um figurante e, minha mãe, pobrezinha, me lembro de fazer
tudo o que pôde, dentro das suas limitações.
Mas Eles, como sempre, estavam
presentes para fazer a diferença e mudar o roteiro. E o que tenho em troca são
as lembranças bastante fortes de cada momento, da cada sorriso, daquele bolo
que salvou minha noite e de todos Eles à mesa preenchendo um pedaço bem grande
da minha vida que por pouco ficaria vazia de história, de boas lembranças e de
bons sentimentos . Quanto à minha mãe, fez tudo o que pôde, nas suas
limitações, já meu pai e meu irmão, os perdoo por não encontrá-los apesar de
revirada a lembrança ou por encontrá-los não em bom estado. Já Eles, fizeram aquele
meu momento de ansiedade, desorientação e medo ser bonito e especial. Queria
aproveitar e revelar, Eles não apenas fazem parte da minha vida, Eles SÃO a
minha vida. Ah... e se não fossem ELES, o que seria de mim?
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