Naquele dia pude experimentar o
pior e mais insosso almoço de toda minha vida. O gosto amargo e frio daquele momento se transportou para a
refeição. Minha cabeça vagava entre o
agora e o porvir. E o medo de toda novidade temperava a comida.
Era difícil distinguir naquela
fase e naquela idade tristeza e solidão. Mas de uma coisa eu tinha certeza,
daquele dia em diante esses sentimentos seriam companheiros constantes. Pela
manhã, durante o almoço e no retorno para casa já não teria mais sua presença.
E durante aquele almoço, me vi
dividida entre o partir dele e o continuar dela, que mais do que nunca
precisaria de nós por inteiro. E esse pensamento amargava aquele almoço já nada
saboroso. Me veio uma vontade infinita de chorar e senti, então, aquelas lágrimas
quentes escorrerem minha face indo cair no prato já bastante cheio. Cheio de
dor, cheio de tristeza, cheio de medo e cheio de um vazio ainda desconhecido.
A partida do meu avô nunca mais
me deixou a memória. Recordo ainda a cena.
A notícia, o desnorteio, o não
saber o que fazer nem para onde correr, o labirinto... Naquele momento, eu
deveria obrigatoriamente compreender: o que tanto temia aconteceu. Ele havia
nos deixado. Me lembro de ir para o
banho aos pedaços e aproveitar aquele momento para rasgar e arrancar do peito aquela úlcera dilacerante de uma perda
pungente. E foi lá, no banheiro, durante o banho, que tentei, falidamente,
esgotar as lágrimas, que ainda hoje, na morosa recordação, ainda insistem em
cair.
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