domingo, 3 de junho de 2012

Quando ele nos deixou


Naquele dia pude experimentar o pior e mais insosso almoço de toda minha vida. O gosto amargo e frio daquele momento se transportou para a refeição.  Minha cabeça vagava entre o agora e o porvir. E o medo de toda novidade temperava a comida. 

Era difícil distinguir naquela fase e naquela idade tristeza e solidão. Mas de uma coisa eu tinha certeza, daquele dia em diante esses sentimentos seriam companheiros constantes. Pela manhã, durante o almoço e no retorno para casa já não teria mais sua presença. 

E durante aquele almoço, me vi dividida entre o partir dele e o continuar dela, que mais do que nunca precisaria de nós por inteiro. E esse pensamento amargava aquele almoço já nada saboroso. Me veio uma vontade infinita de chorar e senti, então, aquelas lágrimas quentes escorrerem minha face indo cair no prato já bastante cheio. Cheio de dor, cheio de tristeza, cheio de medo e cheio de um vazio ainda desconhecido.

A partida do meu avô nunca mais me deixou a memória. Recordo ainda a cena.  A notícia, o desnorteio,  o não saber o que fazer nem para onde correr, o labirinto... Naquele momento, eu deveria obrigatoriamente compreender: o que tanto temia aconteceu. Ele havia nos deixado. Me lembro de ir para o banho aos pedaços e aproveitar aquele momento para rasgar e arrancar do peito aquela úlcera dilacerante de uma perda pungente. E foi lá, no banheiro, durante o banho, que tentei, falidamente, esgotar as lágrimas, que ainda hoje, na morosa recordação, ainda insistem em cair.



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