quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sou dele também


Hoje a lembrança me pegou de surpresa e num salto me dei conta de que sou dele também e de que o devo grande parte da minha vida e de tudo o que sou. Sua presença marcante e silenciosa, assim como ele próprio, também me fez chegar até aqui. Foi no alicerce, na origem, na gênese, no momento em que tudo começou que ele se fez mais pai, e depois, sabiamente, me soltou as mãos, ainda que um pouco inseguro, eu imagino, para que eu pudesse dar os primeiros passos sozinha. Passos que lentamente se alargam e se distanciam, tão irônica que a vida é. 

Ah... e o empurrãzinho da bicicleta também foi dele. Foi com ele que avancei não só nos primeiros passos, mas nas primeiras pedaladas também. Foi com ele que aprendi a não falar palavrão, a não falar de boca cheia e a não deixar comida no prato, afinal: “quem não sabe administrar a quantidade de comida que coloca no prato não sabe administrar a própria vida”. E mesmo que às vezes saia um palavrão intrometido, minha mente me recrimina e a consciência pesa: “Ele não gostaria de me ouvir falar pqp. Ops... saiu”. Ainda que tudo isso tenha sido ensinado de um jeito dele, de um jeito típico, só é marcante porque foi assim.

Nos momentos em que me sinto mal, é a ele quem consulto, enchendo-o de perguntas existenciais, como uma espécie de autoafimação, pois já tenho todas as respostas e só preciso que as confirme. E é nessas horas que me sinto mais acariciada porque fico certa de que sou uma menina para se orgulhar, alguém importante, uma mulher de futuro, merecedora das melhores coisas do mundo, meiga e delicada.  Pronto! Com a autoestima em dia, me sinto preparada novamente para mais um passo, que mais uma vez, ao mesmo tempo, se alarga e se distancia.

E foi aos pouquinhos que ele revelou, ainda que eu já desconfiasse, que sou sua joia, a relíquia da casa, o que me fez inchar ainda mais, se levados em conta a situação em que foi dito e para quem sua afirmação foi direcionada. E por incrível que pareça, só agora me dou conta de como sou uma partizinha dele também, cria dos seus sonhos, dos seus planos e projeções. 
E se a cada dia peço a Deus por alguém, hoje é o dia de pedir por ele, aliás, de agradecer a Deus por tê-lo colocado em nossas vidas, nos presenteando dia a dia com as piadas, as brincadeiras, as trocas de “l” por “r”, os assovios, as “gripes” constantes, os jilós, as peles, as carnes de boi e as costelinhas do almoço. O Roberto Carlos do final de ano, as pueris poses para foto, além de todo o arquivo fotográfico construído na infância também é dele. Agradeço as missas de domingo, a Kombi nossa, guerreira de cada dia, membro da família. Minha companhia nos dias das provas de concurso, Enem, vestibular e afins, que foram tão determinantes para o meu futuro, agora transformado em presente. As máquinas e tanquinhos, as batatas saborosas, os sumiços repentinos para tomar SÓ uma latinha... Enfim, foi assim, de surpresa, que descobri que tudo isso é meu também, que tudo isso sou eu também, E foi assim, meio sem esperar, que me dei conta de que sou tão dele quanto poderia um dia chegar a imaginar.  


 

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