Ontem, fiquei pensando sobre o meu discurso no dia da defesa do doutorado. Passei horas ensaiando o que dizer. A tese nem está pronta ainda, mas o que dizer, ontem, já tinha na ponta da língua.
No ensaio, eu te agradecia, profundamente, por me abrir caminhos, mesmo sem saber que o fazia. Lembra durante a graduação, quando eu tirava 24 nas provas que valiam 25 e a senhora me questionava por que eu havia perdido 1 ponto? Não por maldade, não para me depreciar ou desvalorizar meu esforço, mas para me provar que eu podia mais. E eu podia mesmo. Aos poucos, a senhora foi me fazendo acreditar mais em mim, em quem eu era, na minha força e no meu potencial. E olha onde cheguei!
É… eu cheguei. Aliás, eu não. NÓS! É seu, mãe! Esse doutorado é também seu. Quero que saiba que toda a minha potência é reflexo da sua potência. Talvez eu seja aquilo que a senhora não pode ser. Talvez eu viesse só para te provar o quanto somos capazes, para legitimar sua força, para reafirmar sua coragem e, ao mesmo tempo, ressignificar sua renúncia e redesenhar o futuro. Talvez eu consiga apresentar para as próximas gerações novos caminhos que não os de sempre.
Junto comigo vem todas que vieram antes e as que virão depois. Eu não venho só, não é só por mim, mas por toda uma legião, mesmo que inconscientemente, eu avanço por nós. Todo o meu esforço, toda a minha renúncia, todo o meu investimento, toda a minha energia e entrega têm valido a pena. Tenho aprendido, tenho amadurecido, tenho me humanizado mais. Me sinto alguém melhor, em muitos sentidos. E sei que ainda há muito o que aprender.
Sigo aberta à vida, aos seus encantos, aos seus ensinamentos, à sua magia. Sigo aberta a viver e peço a Ele proteção, benção, força e coragem. Eu nunca tive dúvida. Tem uma centelha divina aqui dentro que me impulsiona por lugares que eu nem mesmo sequer me dou conta.
Aproveito para me desculpar por todas as vezes em que insisti para que vivessem conforme o meu olhar. Peço desculpas por forçar meu jeito de ser. Esses dias aprendi que se silenciar pode ser modos diferentes de sobreviver. Se impor às vezes também é. Se invisibilizar também. Modos diferentes para pessoas e circunstâncias outras e pode ser sábio, como o camaleão que se esconde do predador. Cada estação pede um modo de se cobrir e descobrir, como se trocássemos a pele. A natureza ensina.
Aproveito para eternizar, aqui, agora, toda a minha gratidão a vocês. Por ser quem são. Eu não trocaria nada em nenhum instante. Obrigada por me amar. Isso é o bastante. É desse amor que renasço a cada queda, é esse amor que me impulsiona, que me faz existir, resistir, re-existir. Eu sigo com vocês, por vocês, por nós. Tem cada uma/um de vocês em mim. Eu sou muitas e ao mesmo tempo sou todas.