terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Esse amor me faz existir

Ontem, fiquei pensando sobre o meu discurso no dia da defesa do doutorado. Passei horas ensaiando o que dizer. A tese nem está pronta ainda, mas o que dizer, ontem, já tinha na ponta da língua.

No ensaio, eu te agradecia, profundamente, por me abrir caminhos, mesmo sem saber que o fazia. Lembra durante a graduação, quando eu tirava 24 nas provas que valiam 25 e a senhora me questionava por que eu havia perdido 1 ponto? Não por maldade, não para me depreciar ou desvalorizar meu esforço, mas para me provar que eu podia mais. E eu podia mesmo. Aos poucos, a senhora foi me fazendo acreditar mais em mim, em quem eu era, na minha força e no meu potencial. E olha onde cheguei!

É… eu cheguei. Aliás, eu não. NÓS! É seu, mãe! Esse doutorado é também seu. Quero que saiba que toda a minha potência é reflexo da sua potência. Talvez eu seja aquilo que a senhora não pode ser. Talvez eu viesse só para te provar o quanto somos capazes, para legitimar sua força, para reafirmar sua coragem e, ao mesmo tempo, ressignificar sua renúncia e redesenhar o futuro. Talvez eu consiga apresentar para as próximas gerações novos caminhos que não os de sempre.

Junto comigo vem todas que vieram antes e as que virão depois. Eu não venho só, não é só por mim, mas por toda uma legião, mesmo que inconscientemente, eu avanço por nós. Todo o meu esforço, toda a minha renúncia, todo o meu investimento, toda a minha energia e entrega têm valido a pena. Tenho aprendido, tenho amadurecido, tenho me humanizado mais. Me sinto alguém melhor, em muitos sentidos. E sei que ainda há muito o que aprender. 

Sigo aberta à vida, aos seus encantos, aos seus ensinamentos, à sua magia. Sigo aberta a viver e peço a Ele proteção, benção, força e coragem. Eu nunca tive dúvida. Tem uma centelha divina aqui dentro que me impulsiona por lugares que eu nem mesmo sequer me dou conta.

Aproveito para me desculpar por todas as vezes em que insisti para que vivessem conforme o meu olhar. Peço desculpas por forçar meu jeito de ser. Esses dias aprendi que se silenciar pode ser modos diferentes de sobreviver. Se impor às vezes também é. Se invisibilizar também. Modos diferentes para pessoas e circunstâncias outras e pode ser sábio, como o camaleão que se esconde do predador. Cada estação pede um modo de se cobrir e descobrir, como se trocássemos a pele. A natureza ensina. 

Aproveito para eternizar, aqui, agora, toda a minha gratidão a vocês. Por ser quem são. Eu não trocaria nada em nenhum instante. Obrigada por me amar. Isso é o bastante. É desse amor que renasço a cada queda, é esse amor que me impulsiona, que me faz existir, resistir, re-existir. Eu sigo com vocês, por vocês, por nós. Tem cada uma/um de vocês em mim. Eu sou muitas e ao mesmo tempo sou todas.






segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Amor

 

Eu sou amor, completamente amor, inteiramente amor, infinitamente amor. Venha até mim, acoste-se aqui, deite sua cabeça em meu colo e se deixe repousar por alguns minutos sem nada o que pensar ou se preocupar. Não diga nada, apenas sinta. Sinta o tamanho do amor que reside aqui em mim. Esse amor também é seu, é você, porque você também é amor, muito amor, grandiosamente amor.

Silencie sua mente. Acalme seu coração. Respire profundamente e sinta quanta beleza há em você, em mim, em nós, em todos nós. Chore se sentir vontade. O choro também alivia e lava a alma. Que ele, o choro, lave e leve toda tristeza e medo que há aí dentro de você. Eles não te pertencem porque você é força e coragem. Transmute toda essa energia em paz. Sim, paz. Essa paz que sei que agora reside aí dentro de você. Sabe essa sensação? Ela é o início da sua cura, cura que te abrirá para viver toda a potência do seu ser e da sua existência.

Confie em você, confie no seu amor, no nosso amor, nesse amor que nunca acaba, que nunca se esgota, que cresce e aumenta porque somos ele, o amor. Sim! O amor! Somos amor. Sempre. Indefinidamente amor. Interminavelmente amor. Inexplicavelmente amor. E ele, esse amor está dentro, em nós, somos nós. Eu sou amor. Você é amor. Nós somos amor. Nessa vida, nas anteriores e em todas as outras que vierem, somos amor.

Agora vá e leve aonde for esse amor que vive, que revive, que sobrevive, que reincide, que insiste e nunca desiste porque ele, o amor, sou eu, é você, somos nós! Amor é resistir e voltar a acreditar nele quantas vezes necessárias forem. Por acreditar no amor, resista. Ame! Ame muito. Ame mais. Sempre.

Essa será nossa forma de resistência: nunca deixar de amar. Sempre amar mais. Sempre nos amar mais. Cada vez que houver dúvida, nos amaremos mais e mais. Resista, ame. Ame-se! Nunca desista do amor. E se ele acaso chegar a falhar, saiba, aqui também há amor, aqui também é amor e ele nunca nos faltará, sabe por que? Porque eu te amo! Porque nós, todos nós te amamos, sempre, infinitamente, indefinidamente. E esse amor é maior que nós mesmos, por isso ele nunca faltará. Porque ele é exagerado. Porque ele nos transpassa, nos ultrapassa. Entende? Sente? O amor é você! Você é amor!







sexta-feira, 14 de julho de 2023

A gente aprende

 Com o tempo, a gente aprende que fica quem quer e deseja. Não adianta forçar pessoas, histórias, lugares, amor. Se tiver que prender, não vale a pena. Se tiver que insistir, é melhor deixar ir e abrir espaços de valor para quem deseja estar.

A maturidade me ensinou que o que é meu vai me encontrar e isso me fez baixar a guarda, relaxar e dormir em paz todas as noites. Me coloco aberta à vida e a vivê-la na potência do amor, mas entendo que para muitos será muito e para tantos outros pouco demais.

Aprendi que tudo é uma questão de perspectiva e isso muda a maneira de lidar com o outro, com o mundo e com todos os seres ao meu redor. Há energias que se conectam e se somam e outras que se repelem e se afastam. Assim também são os seres. Alguns parecem vir nessa vida para nos encontrar, outros apenas passam. Alguns permanecem, outros a vida leva. Alguns ficam na memória para sempre, outros morrem dentro de nós.

Eu, com todas as minhas falhas e consciência delas, desejo somar, mas entendi que só se soma se o outro também for número positivo. Escolho sorrir, acolher, compartilhar. Me abro a aprender, a ouvir, a amar, mas aprendi que se outro não quiser, nada disso terá valor. Por isso escolho me conectar com aqueles que veem beleza nos detalhes, que entendem a grandeza de momentos simples, como assistir ao pôr-do-sol, que se encanta com a lua, que sabe apreciar o barulhinho da chuva ou o canto do bem-te-vi.

Para aqueles com os quais desejei me conectar em vão, hoje entendo, não era para ser. Ainda assim, os agradeço o encontro, a partilha do momento e as trocas que se deram. Isso também me constrói quem sou e quem me tornei. Com o tempo, deixei que se fossem sem dores nem arrependimentos. A todos eles, ofereci sempre o meu melhor, o melhor que eu podia ser naquele momento. E antes que eu dissesse não para mim mesma, me permiti escolher partir. Não por egoísmo, mas por amor, amor a mim mesma. Aprendi a respeitar as escolhas de cada um e aprendi que não é em qualquer casa que mereço entrar e que tampouco qualquer um merece entrar no meu lar.

 


sábado, 1 de julho de 2023

A parte que falta

Logo que entramos em casa, ofereci-lhe um copo d'água. Fui ao banheiro. Quando o procurei, ele estava lá, no meu quarto. Nas mãos, a caixinha de música que a Luísa havia me dado na nossa despedida. Ele a observava. Logo em seguida ele girou a corda da caixinha e a canção começou a tocar. Era como se ela me levasse até lá, do outro lado do oceano, para mais perto de mim. Me joguei de qualquer jeito na cama e comecei a chorar. Ele me perguntava: “o que foi? Por que cê tá chorando?”. E eu dizia: “Não sei”. As lágrimas vinham incessantes, fartas. Eu deixava que elas rolassem sem fim, enquanto ali, jogada na cama, meus pensamentos viajavam.

Depois que me refiz, ainda confusa, pedi a ele desculpas por minha crise de choro. Ele entendeu. Enquanto isso, mostrei a ele a caixinha de fotos que a Mariane tinha me dado como recordação de um tempo tão bem vivido e feliz. Ele olhava uma a uma e dizia: “como são lindas”. Concordei. Ele tentava entender por que tudo aquilo mexia tanto comigo. Mas não era possível explicá-lo. Nenhuma palavra era capaz de nomear sequer um terço de quem me descobri ali.

Hoje, ainda hoje, um mês depois, sinto cada vez mais forte como se uma parte de mim tivesse ficado lá. Transito entre momentos de muita alegria e gratidão e outros de tristeza e saudade. Me equilibro entre o aqui, em corpo físico, e o lá, em alma, pensamento e coração. Me busco aqui, incessantemente, mas encontro apenas partes de mim, pedacinhos espalhados, mas não a mim por inteiro. A sensação que tenho é a de que nunca mais serei a mesma, a de que nunca mais serei inteira. Sempre vai faltar uma parte de mim, aonde quer que eu vá ou onde quer que eu esteja.

Dói, ainda dói. A única solução que encontro é de que daqui para frente, precisarei conviver harmoniosamente com essa parte que falta e que nunca mais será preenchida.






sexta-feira, 3 de março de 2023

Eu conto os dias, conto as horas para te ver...

Ontem, antes que eu desligasse o telefone, ele pediu para falar comigo. Eu disse: “Oi, pai! Tudo bem?”. Ele respondeu, meio gritando: “Tá boa? Queria te falar... advinha a música que eu tenho cantado todos os dias...” E eu, surpresa, respondi: “Uai... não sei...” E ele, novamente, me responde, cantando: “Eu conto o dia, conto as horas pra te ver. Eu não consigo te esquecer...”. Rimos muito. Achei tão lindo. Foi como receber um presente antes de dormir. Fez muito sentido aquele carinho à distância. E respondi. E advinha qual vai ser a música que o senhor vai cantar depois que eu chegar. E ele: “Qual?” E foi minha vez de responder cantando... “Hoje sou feliz e canto... só por causa de vocêêê!” E ele me respondeu: “Essa é boa. Faz sentido mesmo”. E assim encerramos aquele telefonema cheios de amor e de saudade.

E isso foi suficiente. Me bastou que meu pai me lembrasse que sou esperada por ele, assim como minha mãe me diz exatamente, desde que me despedi, quantos dias faltam para eu voltar. É só disso que a gente precisa às vezes, de um carinhozinho na alma, já cansada. Hoje de manhã, encontrei a Mari para um café. Comentei que já tenho a data da volta, que foi pesado tomar essa decisão, já que deixo aqui muito do que foi construído esse tempo todo. Mas que é chegado o momento de voltar e para isso preciso ser racional. Descrevi para ela o episódio do meu pai na tentativa de mostrá-la que há espera do lado de lá. Ela ficou surpresa com o que eu contava. E quando repeti a música que ouvi do meu pai, vi que seus olhos se encheram de lágrima. Entendi que foi forte para ela assim como foi para mim.

Tenho certeza que meu pai não percebeu, foi simbólico, mas super significativa essa brincadeira despretensiosa, mas ao mesmo tempo, cheia de amor. Talvez, para quem está longe de casa ressoe com mais força. Não há muito o que dizer. É isso. É simples. Que a gente cuide da gente e dos outros que estão ao nosso redor, aqui, aí, não importa onde. O que importa é a força do amor que existe em nós, que nos entrelaça e que nos fez virmos como família nessa vida. Que a gente compreenda a força de um pequeno gesto, seja uma música, um abraço, uma flor, um sorriso. Não sei vocês, mas para mim, a vida faz mais sentido quando nossas almas são tocadas ou quando sem que percebamos, conseguimos, de uma maneira singela, tocar outras almas também. Obrigada, pai, nesse momento, por essa música, que, a partir de agora, passa a fazer parte da minha trilha sonora. Muito obrigada por ter tocado de uma forma tão bonita e especial a minha alma, que mesmo cansada, depois do seu gesto se renovou e reavivou. Acho que era isso que ela buscava e encontrou em você, vida.





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Um abraço, por favor

Como me faz falta abraçar. Só isso, abraçar... abraçar e me deixar ali, inteira, entregue, completamente vulnerável em braços que me prendam por alguns segundos. Agora que não os tenho constantes como os tinha antes, me fazem falta. Muita falta. Me fazem falta demais. E percebo a força, o poder e a cura que representam para mim, hoje, dois braços enroscados em torno de mim. 

Carência? Talvez... Pode ser que sim... talvez seja isso mesmo. Não sei... não sei de nada mais. Não sei. Nada. Cada vez mais me vejo pequena, um grãozinho de areia perdido no meio do deserto. Cada vez, compreendo um pouco mais minha fraqueza, minha pequenez, minhas dores, meus medos e desejo enfrentá-los na tentativa de me ver fazendo mais sentido para mim mesma, e depois, talvez, fazer sentido para os outros também, quem sabe até mesmo para o mundo.

Complexo, né?! Eu sei. Confesso que tenho me esforçado, muito. Talvez seja a crise dos 40, assim como vivi a crise dos 30. Minha vida tem seguido como uma montanha-russa. As emoções são confusas, desequilibradas. Talvez sejam os hormônios brigando aqui dentro de mim. Tem dias que tudo vai bem. Em outros quero fugir, do mundo, de mim, de tudo e de todos. Em outros me deixo levar. Há dias que desejo viver intensamente e há outros em que não quero sequer sair de casa. O que todos eles têm em comum? O desejo de um abraço.






 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Sinais e cura

Quem me conhece sabe que não acredito em coincidências, e hoje, tão perdida, tão confusa, entre abas aleatórias da internet, buscando um rumo, sinto uma vontade repentina de colocar a “Ave Maria”. Decido olhar para o relógio do computador. 14h em ponto no Brasil. Aqui, 18h. Coincidência? Claro que não.

Quem me conhece sabe também a profundidade que a Ave Maria tem para mim, especialmente, às 18h. Sinto como se o Universo inteiro quisesse conversar comigo, me sacudir, me trazer um recado. Minha avó, em especial, parece conversar comigo agora, como se a conexão entre a música, o horário e meu momento a trouxessem. Cada vez mais, sinto a força da minha avó em mim.

Sinto ela aqui comigo, me dizendo que me protege, que não estou sozinha, que devo seguir, que ela me assiste e se orgulha de mim. Consigo ver sua carinha risonha como nas nossas fotos de aniversário, durante nossa infância. Me vejo conversando com ela, numa intimidade só nossa. “É, Mãe Dindinha, quem diria... a senhora, algum dia chegou a imaginar tudo isso?”. E ela me responde: “Sim, eu já sabia, aliás, eu sempre soube. E fique firme, minha filha. Ainda tem muita coisa para acontecer. Não tenha medo. Eu estou com você. Aonde quer que você vá, eu estou com você, como sempre estive todo esse tempo”.

E de repente me dou conta do que seria mais uma coincidência: hoje seria seu aniversário se estivesse aqui. E me assusto com a força da nossa conexão. Quanta gratidão a minha por nosso encontro nessa vida, por vir como sua neta, por seguir seu legado. Quanto privilégio o meu por termos passado tanto tempo juntas. Que alegria a minha de manter tão forte e viva sua lembrança e presença dentro de mim.

São inúmeros e incontáveis os momentos que passamos juntas durante a minha infância, até os meus 11 anos, quando então ela, aos poucos, começou a se despedir e nos preparar para sua partida. Os aprendizados vieram por meio do seu carinho, do seu cuidado, do seu amor de avó. Me lembro do quanto ela me cuidava. Consigo me lembrar do pente e da escova com que penteava meus cabelos, das conversas que tínhamos. Enquanto passava a mão pelos meus cabelos em frente ao espelho manchado do guarda-roupa do quarto que ficava em frente a cozinha, ela comentava: “seu cabelo tá grande, hein?! Você prende ele para dormir? Como é que você consegue dormir com esse cabelo grande e solto, minha filha? Você não sente calor não?”.

Outras vezes, enquanto eu almoçava sozinha antes de ir para aula, ela me alertava: “não faz hora senão você vai atrasar”. Quando ainda pequenininha, depois da escola, ela já me esperava com um pratinho esmaltado de azul ou um prato maior, branco com um fundo floral ou com o Mickey e a Minie. E ela me perguntava: “Você quer café ou café com leite?’. E então ela trazia uma canequinha branca esmaltada com café com leite com uma pitadinha de sal e o pratinho cheio: tinha pão com manteiga, tinha biscoito água e sal, tinha biscoito maisena e tinha queijo. Depois, ela mesma vinha recolher o prato, e eu agradecia: “brigada, Mãe Dindinha”.

São infinitas minhas recordações e nossas histórias. Várias... E todas elas me passam agora à mente. Talvez tudo isso seja ela aqui comigo, me fazendo companhia. Especialmente, às 18h, que era a hora em que, em silêncio, fechava a porta do quarto e rezava seu terço com contas coloridas enquanto olhava para Serra da Piedade. Acho que é conexão demais para dizer que é coincidência. É conexão demais, hoje, às 18h, em ponto, repentinamente, resolver colocar a Ave Maria e, logo depois, me dar conta de que é seu aniversário.

Obrigada, Mãe Dindinha, por ser minha avó, por me ensinar tanto sobre a vida e as relações, por estar aqui comigo, e especialmente, hoje, vir me visitar dessa maneira tão forte. Obrigada, Deus, por me dar de presente, nessa vida, uma avó como a minha, completamente especial. E sinto que a presença dela me traz cura, acalma meu coração e me traz alívio e paz. Feliz aniversário, Mãe Dindinha! Enquanto estiver presente na nossa memória e no nosso coração seguirá viva aqui dentro da gente. Gratidão por tudo!!!