Logo que entramos em casa, ofereci-lhe um copo d'água. Fui ao banheiro. Quando o procurei, ele estava lá, no meu quarto. Nas mãos, a caixinha de música que a Luísa havia me dado na nossa despedida. Ele a observava. Logo em seguida ele girou a corda da caixinha e a canção começou a tocar. Era como se ela me levasse até lá, do outro lado do oceano, para mais perto de mim. Me joguei de qualquer jeito na cama e comecei a chorar. Ele me perguntava: “o que foi? Por que cê tá chorando?”. E eu dizia: “Não sei”. As lágrimas vinham incessantes, fartas. Eu deixava que elas rolassem sem fim, enquanto ali, jogada na cama, meus pensamentos viajavam.
Depois que me refiz, ainda
confusa, pedi a ele desculpas por minha crise de choro. Ele entendeu. Enquanto
isso, mostrei a ele a caixinha de fotos que a Mariane tinha me dado como
recordação de um tempo tão bem vivido e feliz. Ele olhava uma a uma e dizia: “como
são lindas”. Concordei. Ele tentava entender por que tudo aquilo mexia tanto
comigo. Mas não era possível explicá-lo. Nenhuma palavra era capaz de nomear
sequer um terço de quem me descobri ali.
Hoje, ainda hoje, um mês depois,
sinto cada vez mais forte como se uma parte de mim tivesse ficado lá. Transito
entre momentos de muita alegria e gratidão e outros de tristeza e saudade. Me
equilibro entre o aqui, em corpo físico, e o lá, em alma, pensamento e coração.
Me busco aqui, incessantemente, mas encontro apenas partes de mim, pedacinhos
espalhados, mas não a mim por inteiro. A sensação que tenho é a de que nunca
mais serei a mesma, a de que nunca mais serei inteira. Sempre vai faltar uma
parte de mim, aonde quer que eu vá ou onde quer que eu esteja.
Dói, ainda dói. A única solução que encontro é de que daqui para frente, precisarei conviver harmoniosamente
com essa parte que falta e que nunca mais será preenchida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário