sexta-feira, 14 de julho de 2023

A gente aprende

 Com o tempo, a gente aprende que fica quem quer e deseja. Não adianta forçar pessoas, histórias, lugares, amor. Se tiver que prender, não vale a pena. Se tiver que insistir, é melhor deixar ir e abrir espaços de valor para quem deseja estar.

A maturidade me ensinou que o que é meu vai me encontrar e isso me fez baixar a guarda, relaxar e dormir em paz todas as noites. Me coloco aberta à vida e a vivê-la na potência do amor, mas entendo que para muitos será muito e para tantos outros pouco demais.

Aprendi que tudo é uma questão de perspectiva e isso muda a maneira de lidar com o outro, com o mundo e com todos os seres ao meu redor. Há energias que se conectam e se somam e outras que se repelem e se afastam. Assim também são os seres. Alguns parecem vir nessa vida para nos encontrar, outros apenas passam. Alguns permanecem, outros a vida leva. Alguns ficam na memória para sempre, outros morrem dentro de nós.

Eu, com todas as minhas falhas e consciência delas, desejo somar, mas entendi que só se soma se o outro também for número positivo. Escolho sorrir, acolher, compartilhar. Me abro a aprender, a ouvir, a amar, mas aprendi que se outro não quiser, nada disso terá valor. Por isso escolho me conectar com aqueles que veem beleza nos detalhes, que entendem a grandeza de momentos simples, como assistir ao pôr-do-sol, que se encanta com a lua, que sabe apreciar o barulhinho da chuva ou o canto do bem-te-vi.

Para aqueles com os quais desejei me conectar em vão, hoje entendo, não era para ser. Ainda assim, os agradeço o encontro, a partilha do momento e as trocas que se deram. Isso também me constrói quem sou e quem me tornei. Com o tempo, deixei que se fossem sem dores nem arrependimentos. A todos eles, ofereci sempre o meu melhor, o melhor que eu podia ser naquele momento. E antes que eu dissesse não para mim mesma, me permiti escolher partir. Não por egoísmo, mas por amor, amor a mim mesma. Aprendi a respeitar as escolhas de cada um e aprendi que não é em qualquer casa que mereço entrar e que tampouco qualquer um merece entrar no meu lar.

 


sábado, 1 de julho de 2023

A parte que falta

Logo que entramos em casa, ofereci-lhe um copo d'água. Fui ao banheiro. Quando o procurei, ele estava lá, no meu quarto. Nas mãos, a caixinha de música que a Luísa havia me dado na nossa despedida. Ele a observava. Logo em seguida ele girou a corda da caixinha e a canção começou a tocar. Era como se ela me levasse até lá, do outro lado do oceano, para mais perto de mim. Me joguei de qualquer jeito na cama e comecei a chorar. Ele me perguntava: “o que foi? Por que cê tá chorando?”. E eu dizia: “Não sei”. As lágrimas vinham incessantes, fartas. Eu deixava que elas rolassem sem fim, enquanto ali, jogada na cama, meus pensamentos viajavam.

Depois que me refiz, ainda confusa, pedi a ele desculpas por minha crise de choro. Ele entendeu. Enquanto isso, mostrei a ele a caixinha de fotos que a Mariane tinha me dado como recordação de um tempo tão bem vivido e feliz. Ele olhava uma a uma e dizia: “como são lindas”. Concordei. Ele tentava entender por que tudo aquilo mexia tanto comigo. Mas não era possível explicá-lo. Nenhuma palavra era capaz de nomear sequer um terço de quem me descobri ali.

Hoje, ainda hoje, um mês depois, sinto cada vez mais forte como se uma parte de mim tivesse ficado lá. Transito entre momentos de muita alegria e gratidão e outros de tristeza e saudade. Me equilibro entre o aqui, em corpo físico, e o lá, em alma, pensamento e coração. Me busco aqui, incessantemente, mas encontro apenas partes de mim, pedacinhos espalhados, mas não a mim por inteiro. A sensação que tenho é a de que nunca mais serei a mesma, a de que nunca mais serei inteira. Sempre vai faltar uma parte de mim, aonde quer que eu vá ou onde quer que eu esteja.

Dói, ainda dói. A única solução que encontro é de que daqui para frente, precisarei conviver harmoniosamente com essa parte que falta e que nunca mais será preenchida.