domingo, 12 de abril de 2015

Dessa vez, sem fim

Mais uma vez perco o controle de tudo: de mim, da minha vida, dos meus planos, dos meus desejos, das possibilidades... logo agora que tudo caminhava dentro do confortavelmente previsível.

Me vejo pequena, sem saída, muito menor que todo esse desejo que começa a crescer dentro de mim. Sinto que não detenho o controle de nada mais, nem mesmo dos pensamentos, que me levam agora ao por vir.

E se antes eu caminhava dentro de um limite controlável, essa linha imaginária, agora, perdeu seus contornos. E confesso, isso me gera insegurança. Medo. Receio.

E juro, dessa vez eu me sentia bem, embora sozinha. Aprendi a lidar com tudo o que a vida me impõe – ou quase tudo. E então, de repente, ele me aparece e, por força do destino, já chega se despedindo.

Me sinto confusa, perdida, mas já não busco respostas e explicações como antes. Tudo agora é diferente: o meu olhar, as minhas escolhas, a coragem, o risco, mas não o medo, a ansiedade e a confusão mental.

O que fazer? “Viver!”. É o que me dizem. E é o que tenho tentado fazer, mas não mais como antes. Porque por mais que eu tente não me envolver, os pensamentos me levam até ele. Me encho de interrogações, dessa vez, sem as tentativas frustradas de tentar respondê-las.

Ao mesmo tempo me pergunto e me acalmo: Por que tudo isso? Você já tira de letra! E uma amiga me diz: “Você é uma mulher emancipada, não se apegue.” E quem disse que mulheres emancipadas não se apegam? E quem disse que por serem independentes seu coração queira bater sozinho?

Permaneço confusa, confesso, mas certa de que de que dessa vez não haverá final porque independente da forma como seja o enredo dessa história, a minha, pelo menos, não terminará por aqui. E finjo, dessa vez, deter todo o controle novamente.



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Estamos dentro

Essa canção, agora, me faz lembrá-lo. Parece bobo, mas canto-a repetidas vezes, rememorando todas aquelas que o vi cantá-la. Decoro a letra. O dedo aperta o repet, e assim, o reativo fortemente na memória, inúmeras vezes, porque em cada palavra dessa canção vejo seu rosto, seu olhar, seu sorriso e relembro seus comentários, ao cantá-la.

E nessas horas percebo como ainda está em mim, em meus momentos de solidão, tão bem colocados durante a terapia, e não me enxergo sem ele. E nos vejo assim, distantes, embora tão próximos.  Distantes fisicamente, mas próximos em pensamento, no desejo de nos vermos, de estarmos juntos, porque não estamos fora, mas dentro, um do outro. Nas histórias divertidas – de infância ou recentes – na cumplicidade, na proteção, nas lembranças, no forte desejo de estarmos bem, no colo camuflado, nos conselhos, nos pedidos...

E percebo, ainda que de forma dolorida, que apesar da distância física, estamos próximos e unidos eternamente pelos laços de irmandade, de carinho, de amor, portanto, aconteça o que acontecer, venha o que vier ou quem vier, eu estou com ele e ele está comigo, hoje e sempre.

E ainda que haja alívio por pensar dessa forma, nada disso, ainda assim, me impede de chorar de saudade da convivência intensa, das horas exaustivas que passávamos juntos, de podermos zuar um ao outro pela cara amassada ou pela combinação do chinelo com meia boca de sino e bermuda desbeiçada, de puxar a coberta quando se demorava para levantar pela manhã, de rir, e muito, por se tomar banho uma hora antes de sair para o cabelo secar amigavelmente ou de reclamar do perfume que infestava a casa e que adorávamos comentar, em especial, meu pai: “um dia ainda morre sufocado”.


Gozado, mas nunca pensei sentir tanto a sua falta. Talvez porque um pedaço de mim também se foi, porque me procuro e já não me encontro por inteiro, porque me vejo incompleta, sem ele sempre por perto como antes. Mas me conforta saber que mesmo faltando um pedaço não nos perderemos um do outro, simplesmente porque estamos não fora, mas um no outro. E a música, ainda no repet, não o deixa partitr: “This is my kingdom come. This is my kingdom come.”