Meu pãozinho de queijo sósia me nocauteou hoje dizendo que
vai me deixar. Sofro. Minhas terças e quintas não serão mais preenchidas com
aqueles olhos brilhantes, aqueles caixinhos de ouro e aquele sorriso largo e
lindo.
Ele vai precisar partir, ficar longe por seis meses,
prometeu voltar, visitar-nos. Achei melhor não acreditar. Na próxima semana
será nosso último encontro, a despedida. E esse soco na boca do estômago dói...
E agora, quem vai me zuar, me dizendo que adoro malhar o
pescoço? Quem vai elogiar meu boxe afiado, dizer que esquivo bem... Esquivar?
Pudera eu avançar ali mesmo. E agora, quem vai abrir aquele sorrisão de saudade
disfarçada depois de quase duas semanas sem me ver? E os abdominais em pares? E
os ganchos treinados corpo a corpo? E os swings lentamente ensaiados com
direito a mão na nuca, troca de suores e olho no olho?
Para quê continuar se não vai ser ele mais quem me corrigirá
a base ou a guarda, nem me sorrirá quando a coordenação falhar ou quando o jab não sair como o esperado. Ah... e agora quem vai me calçar as luvas e enfaixar as mãos
daquela maneira quase sexual? Não quero que seja outro que me levante a blusa e me mostre o
abdômen definido me explicando onde é que o gancho deve entrar.
De todos os golpes recebidos e de todos os hematomas
deixados, tenho certeza, esse foi o pior. Logo agora que descobrimos tantas
afinidades, tantas coisas em comum, que nos identificamos em outros ramos e
que havia descoberto quão interessante é por todas as suas escolhas, pelo seu
passado e por todos seus interesses recentemente revelados.
Depois desse golpe baixo, jogo a toalha e deixo o ringue.
Lutar para quê, sem ele? E admito: mais uma vez, eu perdi.
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