Quem me conhece sabe que não acredito em coincidências, e hoje, tão perdida, tão confusa, entre abas aleatórias da internet, buscando um rumo, sinto uma vontade repentina de colocar a “Ave Maria”. Decido olhar para o relógio do computador. 14h em ponto no Brasil. Aqui, 18h. Coincidência? Claro que não.
Quem me conhece sabe também a
profundidade que a Ave Maria tem para mim, especialmente, às 18h. Sinto como se
o Universo inteiro quisesse conversar comigo, me sacudir, me trazer um recado. Minha
avó, em especial, parece conversar comigo agora, como se a conexão entre a
música, o horário e meu momento a trouxessem. Cada vez mais, sinto a força da
minha avó em mim.
Sinto ela aqui comigo, me dizendo
que me protege, que não estou sozinha, que devo seguir, que ela me assiste e se
orgulha de mim. Consigo ver sua carinha risonha como nas nossas fotos de
aniversário, durante nossa infância. Me vejo conversando com ela, numa
intimidade só nossa. “É, Mãe Dindinha, quem diria... a senhora, algum dia
chegou a imaginar tudo isso?”. E ela me responde: “Sim, eu já sabia, aliás, eu sempre
soube. E fique firme, minha filha. Ainda tem muita coisa para acontecer. Não
tenha medo. Eu estou com você. Aonde quer que você vá, eu estou com você, como
sempre estive todo esse tempo”.
E de repente me dou conta do que
seria mais uma coincidência: hoje seria seu aniversário se estivesse aqui. E
me assusto com a força da nossa conexão. Quanta gratidão a minha por nosso
encontro nessa vida, por vir como sua neta, por seguir seu legado. Quanto
privilégio o meu por termos passado tanto tempo juntas. Que alegria a minha de
manter tão forte e viva sua lembrança e presença dentro de mim.
São inúmeros e incontáveis os
momentos que passamos juntas durante a minha infância, até os meus 11 anos,
quando então ela, aos poucos, começou a se despedir e nos preparar para sua
partida. Os aprendizados vieram por meio do seu carinho, do seu cuidado, do seu
amor de avó. Me lembro do quanto ela me cuidava. Consigo me lembrar do pente e
da escova com que penteava meus cabelos, das conversas que tínhamos. Enquanto
passava a mão pelos meus cabelos em frente ao espelho manchado do guarda-roupa
do quarto que ficava em frente a cozinha, ela comentava: “seu cabelo tá grande,
hein?! Você prende ele para dormir? Como é que você consegue dormir com esse
cabelo grande e solto, minha filha? Você não sente calor não?”.
Outras vezes, enquanto eu
almoçava sozinha antes de ir para aula, ela me alertava: “não faz hora senão
você vai atrasar”. Quando ainda pequenininha, depois da escola, ela já me
esperava com um pratinho esmaltado de azul ou um prato maior, branco com um
fundo floral ou com o Mickey e a Minie. E ela me perguntava: “Você quer café ou
café com leite?’. E então ela trazia uma canequinha branca esmaltada com café
com leite com uma pitadinha de sal e o pratinho cheio: tinha pão com manteiga,
tinha biscoito água e sal, tinha biscoito maisena e tinha queijo. Depois, ela
mesma vinha recolher o prato, e eu agradecia: “brigada, Mãe Dindinha”.
São infinitas minhas recordações
e nossas histórias. Várias... E todas elas me passam agora à mente. Talvez tudo
isso seja ela aqui comigo, me fazendo companhia. Especialmente, às 18h, que era
a hora em que, em silêncio, fechava a porta do quarto e rezava seu terço com
contas coloridas enquanto olhava para Serra da Piedade. Acho que é conexão
demais para dizer que é coincidência. É conexão demais, hoje, às 18h, em ponto,
repentinamente, resolver colocar a Ave Maria e, logo depois, me dar conta de
que é seu aniversário.
Obrigada, Mãe Dindinha, por ser
minha avó, por me ensinar tanto sobre a vida e as relações, por estar aqui
comigo, e especialmente, hoje, vir me visitar dessa maneira tão forte.
Obrigada, Deus, por me dar de presente, nessa vida, uma avó como a minha,
completamente especial. E sinto que a presença dela me traz cura, acalma meu
coração e me traz alívio e paz. Feliz aniversário, Mãe Dindinha! Enquanto
estiver presente na nossa memória e no nosso coração seguirá viva aqui dentro
da gente. Gratidão por tudo!!!