Hoje faço um ano aqui na França e a saudade vem cada vez mais forte, devastadora, pungente, dilacerando meu coração. Eu finjo que tá tudo bem, mas lá no fundinho, bem no fundinho, eu sei que não. Não está. Tenho descoberto cada vez com mais certeza e segurança de que o meu lugar é lá.
Como me faz falta abraçar minha
mãe e passarmos horas conversando, rindo, refletindo sobre a vida, filosofando,
lembrando de coisas do passado. Sinto falta de rir das piadas do meu pai e
mandá-lo cortar o cabelo, com a resposta dele sempre previsível, dizendo que
quem corta o cabelo é o barbeiro. Nas noites de sábado invento sempre o que
fazer por aqui, mas não tenho Plínio, Lívia e Alice chegando em casa no final
da tarde para tomar um café, falar besteira, ver vídeos bobos no Instagram e
depois levá-los até o portão.
E tia Lelena me chamando na
janela do meu quarto para me contar que se lembrou de mim ou me dar conselhos
ou dizer que fritou “uma mãozinha de batata” para mim. Letícia que aparecia de
surpresa no meu quarto me pedindo para ajudá-la no dever, quando na verdade, o
que eu sabia que ela queria mesmo era companhia, carinho, conversa e atenção.
Às vezes tenho a sensação de que
mais seis meses aqui será uma eternidade. Enquanto tô aqui, distante, o tempo
passa. E a vida tem me ensinado a todo custo que nossa maior riqueza é perto
dos nossos. Eu sei, precisei aprender vivendo o contrário de tudo isso. Aprendi
também, que posso construir valiosas amizades aqui, apesar disso parecer quase
impossível, mas no final das contas, quem vai seguir comigo até o fim está lá,
me esperando voltar.
Não sei como será passar as
festas de final de ano aqui. Vou me esforçar para ficar bem, para não chorar,
para não doer. Pode parecer, e de fato ser, tudo lindo aqui, mas prefiro o meu
simples e singelo de lá. A cada dia e a cada experiência, por mais linda e
significativa que ela possa ser, aprendo que meu maior tesouro está lá,
contando dia a dia para que eu volte e são para esses braços que não vejo a
hora de voltar.