Eles eram amigos. Se conheceram em um dia qualquer, por
qualquer motivo, em um momento qualquer. Mas não foi por uma causa qualquer que
continuaram a se ver, a se falar, a se querer bem, a se gostar.
Embora a vida houvesse pregado surpresas, o namoro de um, a
distância do outro, eles, ainda assim, se gostavam, se queriam, se desejavam,
se permitiam. Se permitiam um ter a presença, ainda que só em pensamento. Se
permitiam, ainda que ainda às escondidas, projetar sonhos juntos, imaginar
possibilidades, delinear o futuro.
Eles se queriam, mas não se cobravam. A felicidade de um era
suficiente para outro. O querer bem com sinceridade lhes bastava. O simples “oi”,
o desejo real de um “bom dia” e a despedida com um beijo de boa noite tornavam
a vida mais colorida, mas feliz, fazia toda a lida valer a pena.
Não era preciso andar de mãos dadas pelas ruas, não se faziam
necessários beijos de língua, tampouco sexo selvagem, na verdade, depois de um
tempo, eles nem sequer se viam mais. Coisas da vida, distância, correria, dia a
dia. Mas a vontade de felicidade mútua permanecia, apesar da distância.
Foram percebendo, dia após dia, que já não se aguentavam
mais longes um do outro. Os e-mails já não bastavam, os sonhos se tornaram constantes,
o pensamento apontava sempre que se precisavam juntos. E foram percebendo,
então, que haviam sido feitos um para outro. E não sabiam. Enquanto se curavam
de amores perdidos ou enxugam as lágrimas da decepção amorosa do outro,
torcendo para que encontrassem a pessoa certa, não percebiam que um era a
pessoa certa para o outro.
E o que já era doce foi ficando cada vez mais prazeroso.
Porque já se conheciam, já se gostavam o suficiente para saber que não se
queriam longe um do outro, porque se respeitam mais que a si próprios, porque
uma amizade verdadeira e sólida já havia sido criada no momento em que se
conheceram um dia qualquer, em um momento qualquer, mas não mais por um motivo
qualquer.