Para mim, era tudo novo. Estar ali, ensinar Língua
Portuguesa, lecionar para o nono ano, e o que é pior, entrar para uma turma,
que embora desconhecida, já tinha notícias de que eu não seria bem-vinda.
Se foi fácil? Não, não foi!
Houve rejeição, houve receio, houve medo, mas foi
desafiador. Estar ali a cada dia, convencê-los de que valeria a pena, de que
havia boa intenção, de que precisavam me dar uma chance e de que poderíamos ser
amigos era meu exercício diário.
E aos poucos todo o “não” foi dando lugar ao “talvez”, sendo
transformado, lentamente, em tímidos “sins”, que também, lentamente, iam se fortalecendo
e se transformando em “claro que sim”!
E foi aos poucos também que aprendemos a nos gostar e a nos
respeitar. Se antes havia rejeição, agora havia recepção. Se antes eu era recebida
com indiferença, ao final eu tinha certeza de que era esperada ansiosamente.
E ali, por incrível que pareça, virou o meu refúgio. Se algo
não ia bem, era ali onde eu me fortalecia, era por meio deles que eu me sentia
amada, com aquele amor despretencioso, com aqueles sorrisos despreocupados,
pelas piadas, com os coraçõezinhos, com as piscadelas, com o “deixa eu apagar o
quadro?”, com o “profe, você sabe que eu te amo!”, ainda que mentirosos, com os
recadinhos no quadro, com os elogios... Ah... foram tantas histórias.
E hoje, uma relação rica e forte foi criada entre uma
professora carente e uma turma cheia de amor.
Se eu chegava com o olho vermelho, sempre havia um que me
perguntasse se estava tudo bem. Se eu estivesse nervosa, aparecia um para me
acalmar. Se eu estivesse triste, havia uma piada, uma música. Se o problema era
o estresse, era preciso um consenso e ao final tudo fluía bem.
Houve aprendizado sobre a Língua Portuguesa, mas mais que
isso, houve respeito (ou uma tentativa de respeito, para alguns) às diferenças,
ao novo, ao que se tem para oferecer, ao que se tem para falar, ao que se tem
para doar. Houve muita vontade de acerto, houve orações, houve torcida e tenho
certeza, vai haver saudade.
Hoje, um tempo depois, pude provar e sentir que valeu a
pena. Embora o cansaço latente, as olheiras e as dores psicossomáticas, tudo
valeu a pena por vocês! Vocês que preenchiam minha semana, seja com as
bagunças, seja com as surpresas, seja com as confidências, com os conselhos
trocados, era desafiador e gratificante estar com vocês, meu 9º B.
Desejo, insistentemente, que tudo valha a pena na vida de
vocês. Quem chega, quem parte, quem fica. Desejo que a vida de vocês seja como
as paredes da casa do avô do livro “Por parte de pai”, que tão bem vocês
conhecem. Que seja cheia de histórias e que traga cor e novidade para quem
leia, para quem se aproxime e para quem se interesse. E desejo, ainda mais
fortemente, que eu faça parte de um pedacinho dessa parede que já possui
histórias porque aqui dentro, para vocês, já há um lugar muito especial, não
apenas nas paredes da minha vida e da minha história, mas dentro do meu
coração. E se por acaso a saudade apertar, estou por aqui!