terça-feira, 8 de março de 2011

Amizade

Me parece interessante como cada amigo nos deixa um pouco de si. Pelos aprendizados, pelos sorrisos, pelas lágrimas compartilhadas, pelo colo, pelas experiências sempre divididas.

Sempre digo que amigos vêm para acrescentar, para somar, e de cada um deles fica alguma coisa. Com uma amiga em particular aprendi a ser forte, a não fraquejar, a lutar de peito aberto sem medo de errar ou cair. Aprendi a ter coragem de enfrentar a vida, de vivê-la sem receio e aprendi também o que não se deve fazer.

Com esta sim pude percorrer caminhos desconhecidos, viver experiências sempre desejadas, mas sempre evitadas também. Pude ir além, enfrentar medos, derrubar barreiras, e apesar de às vezes ir de um extremo ao outro, descobri a verdadeira felicidade. Aquela simples, sem cobranças, sem explicações, sem porquês, livre de qualquer valor do mundo humano. A felicidade pelo simples fato de ser feliz, de fazer o que se quer, de se conhecer melhor, de se realizar desejos. Aprendi a sair do meio termo e tentar o salto mortal.

Amiga que me trouxe Carpinejar, a alegria dos barzinhos, o improviso, o pastel de angu com Sprite, a madrugada repentina, o voltar a pé da Savassi ao Centro no meio da noite, a tão famosa caipirinha, o divertir sozinha, os sexy shops, a Áustria Pilsen, “O Canto dos Pássaros”, dentre várias outras descobertas. Descobri, por exemplo, que meu anjo da guarda não cochila, assim como o dela; ultimamente tenho dado trabalho 24 horas por dia.

Sei que minha estadia em Belo Horizonte não teria o mesmo colorido sem essa presença. Meus fins de tarde não seriam tão gostosos, o trabalhar seria mais denso e tenso, as cervejas, as cubas e as caipis não teriam o mesmo gosto irresistível depois de um dia cansativo de trabalho, os cinemas (no sentido literal da palavra) seriam mais solitários, as batatinhas não seriam tão almejadas e ansiosamente aguardadas se comidas sozinha ou em outra companhia. Talvez seja por tudo isso que me mantenho firme aqui até hoje, apesar de muitas vezes querer virar a mesa voltar do início.

Tenho certeza que os amigos não surgem em nossas vidas em vão. Quantas coisas vivemos juntas, quantas coisas aprendemos juntas. Tantas histórias para contar, tantos risos, tantas gargalhadas, algumas lágrimas, colos e palavras. Isso sim é amiga para toda hora, para toda ocasião, para os programas de índio – que se tornam os mais divertidos – para um passeio no shopping, para as confidências escondidas no banheiro, para uma saidinha inusitada para levantar o astral quando as coisas não vão bem. Amiga, conselheira, guia turístico, ressaca, todinho, confidente.

Talvez nos demos tão certo pelo tão importante equilíbrio que mantemos. Tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Imagine: uma paulista da capital e uma mineirinha do interior. Temos aí dois extremos não só cultural, mas de pensamentos, de valores, de crenças e de experiências. Ela, mais nova, no entanto mais vivida; eu, um pouco mais velha, porém conservadora. É por isso que dá certo, porque apesar de tudo, nos respeitamos e nos entendemos, ou pelo menos tentamos nos entender e mergulhar uma no mundo secreto da outra, sempre abertas ao que se tem a escutar e a compartilhar. Percebi que íamos dar certo desde o primeiro dia em que saímos sós. Interesses divergentes, comentários pertinentes, e a coragem que sobrava em uma preenchia o farto medo que tomava conta da outra.